sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Observo


Silêncio.
Não recebo,
não estranho.
Observo.
[Receito]


Coragem.
Não lhe falo,
não a ouço.
Observo.
[Respeito]


Limite.
Não defino,
não acabo.
Observo.
[Rejeito]


E, ao olhar que encobre
o que reservo
e clamo,
ergue-se a voz, e descobre:
“Eu não observo,
eu amo!”


25 de Setembro, 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

Outra vez


Haja luz na Terra,
no mar, pelo ar,
e nas rugas.
Na mente.

Entre alma no corpo,
empurre-se e puxe-se
o espaço.
O tempo.

Seja tudo igual outra vez:
que a paz venha fria; o sucesso, forçado.
A natureza? Vazia! O olhar: perturbado.

Batalhem escravos e amos,
que nada se desperdice…
Arrependimentos, guardamos
para depois da velhice!


12 de Setembro, 2008

Toque rosado


Rumo à montanha rente ao céu,
sinto a terra, o sol e o vento...
Insaciada, imploro o alento
do mar salgado, o meu troféu.

Onda vestida em tons de amor
à luz da lua que me invade...
No interior, rompe a verdade
descubro, em vida, outro sabor.

Sem ela, esqueço o que procuro,
perco-me sem o tal toque rosado…
quanto mais forte, tanto mais puro!

Por ela, raptava cada estrela,
deixand'o negro alto, apagado...
Antes o mar sem luar, a perdê-la!


Para uma amiga que fez anos hoje, 3 de Setembro de 2008

Suspiros


Ai...
a falta que me faz
um anjinho-sentimento
que me aceita
e me traz
ternos risos com o vento.

Ah...
amigo emocionante
que seduz até a vida.
Telepatia
inebriante,
cumplicidade prometida.

Oh...
já rendido à Altair,
no olhar luz o encanto
de quem brinda
a uma Mulher,
a seus olhos e a seu canto.
(A quem ama tanto, tanto)


(Dedicatória)
25 de Agosto, 2008

Desafio


Acordo
- lentamente -
com a luz, inquietante,
e preparo a alma
e o coração.
(Alvorece e eu desespero)

E em arranjos cobardes,
à força que me exigem
as manhãs e as tardes
e início das noitadas,
é de lágrimas atadas
que alcanço o firmamento.
Mas choro só por dentro,
que por fora não posso.

Recordo
- vagamente -
a lua cheia, pensante,
e o brilho na palma
da minha mão.
(Anoitece e eu recupero)

Se é no escuro que sinto
um aroma ou melodia,
fecho os olhos e pinto,
ou fecho-os e minto,
erguendo um gesto afoito.
E escrevo de dia,
como quem desafia
a escuridão da noite.


19 de Agosto, 2008

Tua


Sente

...A brisa mais leve
pelos cabelos, desfiada…
o cheiro do mar,
entranhado, por dentro!

...O olhar que descreve
a vida mal desejada,
o prazer de amar
desde fora, ao centro!

...O sorriso tão breve
da criança abandonada,
o medo a aflorar
em guerras que esventro!

Sente-te todo invadido pelo brilho da lua!…
e só aí sentirás se algum dia fui tua.


18 de Agosto, 2008

Sentido em mim


“Esta noite dormi bem
- sono continuado –
mas acordei cansada.”
Durmo toda a noite,
se o sono vem,
e, ainda assim,
acordo acabada.
E passo o dia, adormecida,
sem sono para dormir.
Isso cansa.
Não sinto a vida…
Difícil mesmo é definir
qual o sonho de confiança:
se o da noite, calmo e frio;
se o do dia, mais frio ainda.
Então sonho, escrevendo
ou escrevo, sonhando…
Mas continua um vazio!
Acordo hoje, menina e linda,
na ternura a que me rendo
(estou na noite, a divagar)
desiludo-me… e abrando.
Escrever o quê?
…se mal consigo pensar!
“Esta noite dormi mal
- sono retalhado –
e fiquei necessitada”.
Uso a memória, sem certeza
para acordar antes do fim.
Quero invocar a natureza,
despertar o sentido em mim.


14 de Agosto, 2008

Paradoxos d'uma vida


Minha vida está repleta de facetas,
vagueio essas terras, esses campos
nenhuma luz, nem rútilos pirilampos,
ilumina minha trajectória em piruetas.

Se um dia o sol me eleva a mente,
logo a noite me esmaga a alma.
Confundo e minto. Sigo, calma
não sei se viva... se estou doente.

Embora - é meu destino. Em treva densa
Dentro do peito a existência finda...
Pressinto minha morte na fatal doença!...

Sugo o esplendor da vida: penso e sinto.
Na natureza, a alma é bem-vinda...
E dela morro. Destino ou forte instinto?...


Dueto:
Francisco Ferreira (1ª quadra e 1º terceto)
Diana Correia (2ª quadra e 2º terceto)
26 de Julho de 2008

A espera


A espera é longa e,
enquanto espero, devagar,
perco um tempo que não uso
e abuso de um outro
que não tenho
para esperar.


29 de Julho, 2008

A minha mão


Já há muito que o mundo
que descascas e consomes
voltou as costas ao meu.
Fruta podre que no fundo
sabe à terra de onde veio
tudo o que reclamas teu.

Cala-te e deixa-me a voz.
Liberta essa busca da força
que não há e que não é
em nós.
(Já te pesa o coração!)

Perde-te e deixa-me aqui.
Leva as sobras da tortura
penitente desta farsa
e sorri.
(Cinismo-aberração!)

Morre ou fina-me agora.
Pára! … Continua.
Respira fundo e afunda
na lama a cara, nua.
E chora.
(Tinhas a minha mão!)


23 de Julho, 2008

É assim


Prospecto o tempo, lentamente
e nada se altera
em mim
excepto a ânsia equivalente
à quimera
do meu fim.
Sim.

Era um génio? Prometia?
Quanto tanto aprendi…
…que já esqueci…
Perdi o brilho!
Fraco empenho? Cobardia?
Sem sentidos, intuí…
…ora perdi…
e não partilho!
É assim.

Por isso deixem-me,
(estou bem!).
Não sou mais do que isto
e não vou mais além.
Não vivo, existo.
Então poupem-me,
não puxem por mim!
Sim.
É assim.


13 de Julho, 2008

Noite (Redenção)


É noite e penso.
Penso mas reparo
no eco do silêncio
que assombra e afugenta
o pensamento.

Afinal o que sentia
era nada.

Imagino o que seria
se sentisse o que escrevi
aclamando o tormento
(tão meu!)
que criei e que fingi.

Já não vejo, não cheiro…
…nem sequer ouço
(e a música é tão íntima!).
Estou finalmente a sós
comigo.

Acomodo-me à certeza
de um vazio desleal
que me preenche
e dá abrigo
da tristeza e do mal
que quase que sinto
por nada sentir.

É noite e estou só
(incapaz de chorar!).
E renuncio a seduzir
a sensação para o prazer
de ver, cheirar…
…e ouvir.


1 de Julho, 2008

Por que esperas?


Dois segundos já passaram
e ainda divagas,
hesitas.
Presa nos pensamentos
dementes,
ciente de que o tempo
não espera,
não pára.

Porque esperas...

... Se sonhas e sentes
mas tens asas
dormentes
em correntes atadas?
... Se nasces e crias
sem notar que
os dias
são dias que passam
e mais nada?

Crês no que vês?
Na palhaçada deprimida
agravada pelas gentes
descontentes
de sua vida fingida?

Por que esperas...

... Para te libertares
dessa herdade
cansada,
desde sempre condenada
e agora consumida?
... Para conquistares
a tal verdade
iluminada
e seres tu a mais amada
por ti, na tua vida?

A tua natureza há-de te abraçar,
um dia.


24 de Junho, 2008

Confesso


Magoa-me
o grito calado
que guardo e que escondo
cá dentro.
Destrói-me.

Minto.
O riso sofrido
que cobre o que sinto
e que pinta e dá vida
à minha alma.
Sufoca-me.

Perco-me.
Confundo o que finjo,
não vejo e bloqueio
nas teias
do nada que desconheço.
Anseio.

Confesso.
Contemplo a dor
que é escrever
sem errar.
Assumir no interior
o que posso fingir
se simplesmente falar,
só por falar…


Maio, 2007

My friend


Can you tell your friend's heart is cold,
dying,
needing singing birds?
Can you see his soul's apart and sold,
crying,
holding hurting words?

Say your friend's down and low,
would you take him
or bring him
the floor you step and flow?

Say your friend's lost his glow,
who will join him,
refine him,
now you've set your way to go?

Will you get mad
if he calls you
and yells at you
and it is nothing in the end?
You see the time
he makes you spend,
yet you continue to pretend
to listen
and understand.

Can you tell your friend is lonely,
lying,
keeping silent pain?
Can you see him, one and only,
trying,
hiding violent rain?

Sorry,
thought you said you were my friend.


10 de Junho, 2008